sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O corpo

O meu corpo
parte dentro do caixão
perdi o controlo...

Levem-no enterrem-no

Levem a imagem do que sou
esqueçam como foi
e que agora fui e não avisei

Seco e branco
não respiro mas sinto
que algo cá ficou esquecido

ou mal agradecido

e agora sisudo
não sinto o rubro…
o escorrer das lágrimas...

que sustentam alma
que já não contentam este ser
paralítico e mudo

desço a terra
larvas, bichos
consomem sem dor

comam este meu
tumor, as feridas abertas
o não perdão e o rancor

cai terra e escurece…

venham e levem, esta pele
esta capa que me prende...
e o preconceito que ninguém entende

tomem conta de mim, desçam
pela história das minhas rugas
ao trauma ao pecado e ao tormento

Depressa, roam o
podre sujo e mudo..
levem o meu transporte...

que me fez andar e nadar
sempre atrás daquilo
que não sabia, a derivar..

cai terra...
deixem-me,
sair fora de mim...

sim, pairar...
ver-me de longe
e pela ultima vez me admirar

levo comigo o enigma
da morte a alma muda…
que em solidão permanece…

cai terra...
a minha boca fechada
não tenta e só pensa…

aonde pára, onde acaba
o que nunca se esquece...
aquilo que nem o tempo apodrece…

Autor:
Tiago Campos

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