O meu corpo
parte dentro do caixão
perdi o controlo...
Levem-no enterrem-no
Levem a imagem do que sou
esqueçam como foi
e que agora fui e não avisei
Seco e branco
não respiro mas sinto
que algo cá ficou esquecido
ou mal agradecido
e agora sisudo
não sinto o rubro…
o escorrer das lágrimas...
que sustentam alma
que já não contentam este ser
paralítico e mudo
desço a terra
larvas, bichos
consomem sem dor
comam este meu
tumor, as feridas abertas
o não perdão e o rancor
cai terra e escurece…
venham e levem, esta pele
esta capa que me prende...
e o preconceito que ninguém entende
tomem conta de mim, desçam
pela história das minhas rugas
ao trauma ao pecado e ao tormento
Depressa, roam o
podre sujo e mudo..
levem o meu transporte...
que me fez andar e nadar
sempre atrás daquilo
que não sabia, a derivar..
cai terra...
deixem-me,
sair fora de mim...
sim, pairar...
ver-me de longe
e pela ultima vez me admirar
levo comigo o enigma
da morte a alma muda…
que em solidão permanece…
cai terra...
a minha boca fechada
não tenta e só pensa…
aonde pára, onde acaba
o que nunca se esquece...
aquilo que nem o tempo apodrece…
Autor:
Tiago Campos
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